
O Laboratório de Segurança Alimentar (LSA) testa análise polínica de mel com recurso a
Inteligência Artificial
O mel é um alimento que geralmente se apresenta sob a forma de líquido viscoso naturalmente açucarado, produzido pelas abelhas da espécie Apis melífera a partir do néctar de plantas que as mesmas colhem, transformam (por ação de enzimas digestivas) sendo, depois, armazenado nos favos das colmeias e que lhes serve de alimento.
O mel tem sido utilizado pelo ser humano como alimento desde há séculos. Primitivamente a sua obtenção era feita de forma extrativa e com o passar do tempo, o homem desenvolveu técnicas para capturar e instalar enxames em colmeias de maneira controlada. Esse maneio das abelhas para a produção de mel marcou o início da apicultura.
Portugal é produtor de mel, existindo 9 zonas produtoras de méis com denominação de origem protegida (DOP), nomeadamente: Mel do Parque de Montesinho; Mel da Serra da Lousã; Mel de Barroso; Mel dos Açores; Mel da Terra Quente; Mel das Terras Altas do Minho; Mel do Ribatejo Norte; Mel do Alentejo e Mel da Serra de Monchique.
A produção estimada em 2024 foi cerca de 13 mil toneladas, das quais uma grande quantidade foi exportada, sendo que a produção de mel reconhecido com DOP é residual.
Os requisitos específicos que os operadores do setor do mel devem respeitar, estão de uma forma geral definidos no Decreto-Lei n.º 1/2007 de 02 de janeiro.
As determinações analíticas mais relevantes são o teor de humidade, açúcares, pH, diastase, acidez, cinzas, sacarose, além de contaminantes, resíduos de pesticidas e outras adulterações especialmente para o mel vendido a granel .

O mercado mundial do mel é relevante e está sujeito a fraudes. Um relatório da Comissão Europeia datado de 2023, conclui que 46% das amostras analisadas no controlo fronteiriço de importações em 2021 e 2022, apresentavam indícios de fraude.
Para o controlo da fraude, destacam-se, entre outros tipos de análise, a análise polínica do mel, ou melissopalinologia como técnica poderosa de estudo dos grãos de pólen encontrados no mel para a identificação da sua origem botânica e geográfica.
Neste contexto, e na senda do combate à fraude o LSA está a testar um equipamento (Honey.AI) com aplicação de tecnologia com recurso a Inteligência Artificial (IA). Esta tecnologia indicia melhoramentos na precisão da análise de pólen no mel ao substituir o processo manual por uma abordagem totalmente automatizada, baseada em inteligência artificial. Utilizando milhares de imagens de cada amostra, o sistema aplica algoritmos “treinados” em diversas bases de dados para identificar e quantificar mais de 100 espécies de pólen. Este método garante elevada padronização, eliminando desvios e tendências resultantes da fadiga humana que ocorrem no método manual, habitualmente utilizado, proporcionando resultados potencialmente mais rápidos e confiáveis.

Foram testadas 25 amostras de mel de diversas origens, cujos resultados serão comparados com os correspondentes obtidos pelo método microscópico convencional.
Estes ensaios em paralelo, contribuirão para a validação da análise polínica de mel utilizando a solução com o recurso à inteligência artificial, visando melhorar a deteção da fraude no mel.
ASAEnews nº 133 - setembro 2025