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Álcool na adolescência - exposição e suas consequências


O etanol, principal álcool presente nas bebidas alcoólicas, é o depressor do sistema nervoso central eventualmente mais usado (e abusado) por humanos em certas regiões do globo. Sendo uma substância psicoativa e originando dependência, é socialmente aceite, não tendo sobre ele a carga negativa de outras drogas, como as denominadas drogas de abuso.
No entanto, o consumo do álcool tem sido associado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a mais de 200 perturbações do normal estado de saúde.

Para a população em geral, a exposição abusiva ao álcool expressa-se por 3 mecanismos diretos:

1. Efeitos tóxicos em tecidos e órgãos  
2. Intoxicação aguda, com alteração da coordenação física, da consciência, das funções cognitivas, da perceção, do comportamento
3. Dependência

A iniciação da exposição ao álcool começa regra geral na adolescência, na tentação de imitação de hábitos dos adultos (muitas vezes no seio da própria família), na procura de desinibição, experimentação de novos desafios, por pressão do grupo, etc.
Não havendo padrões definidos de uso de álcool na adolescência, a exposição na adolescência tem sido subdividida em dois tipos:

1. Iniciação na pré-adolescência, pelos 14 anos ou antes
2. Na adolescência, 15-18 anos, tipificada pela idade de entrada na Universidade, exposição sobretudo intermitente, mas de forma aguda, isto é, ingestão de grandes quantidades de bebidas alcoólicas num curto espaço de tempo. Este tipo de exposição, conhecido por “binge drinking” é definido pela OMS como sendo a ingestão, no espaço de 2 h, de 5 bebidas ou mais (4 ou mais em indivíduos do género feminino), seguida de pelo menos 2 semanas de abstinência até nova exposição aguda.

Vários estudos apontam para consequências graves nos adolescentes expostos ao álcool segundo estes dois tipos de exposição. Por exemplo, está comprovado que a iniciação na exposição ao álcool antes dos 14 anos resulta numa taxa de dependência do álcool na idade adulta 4 vezes superior à dos indivíduos que fazem essa iniciação depois dos 20 anos (Spear 2015).

A prática intermitente de exposição aguda a bebidas alcoólicas, algumas de elevado grau alcoólico, é um padrão universalmente adotado em cerca de 16% dos indivíduos de idade superior a 15 anos, sobretudo nos países considerados desenvolvidos, em que Portugal se inclui (OMS 2014). No relatório da OMS reportam-se dados a 2010 em Portugal, mostrando uma  prevalência para o consumo esporádico e intensivo de álcool de cerca de 30% dos adolescentes com idades compreendidas entre 15-19 anos.

Sendo o cérebro o principal órgão alvo da ação tóxica do álcool quando ingerido de forma aguda, os estudos em humanos são de difícil realização, tendo sido sobretudo retrospetivos, observacionais, incidindo em alterações do comportamento. Sabe-se, por outro lado, que a adolescência é um período crítico no qual certas áreas do cérebro sofrem alterações estruturais e funcionais importantes, nomeadamente na plasticidade da sinapse e na conectividade neuronal, modificações dos níveis de recetores dos neurotransmissores, entre outras. Assim, funções cognitivas como atenção, memória, e controlo da inibição também se desenvolvem durante a adolescência e a exposição exagerada ao álcool tem consequências  comportamentais, cognitivas, e psicossociais.  Alterações neurocognitivas relacionadas com a exposição dos adolescentes ao álcool têm sido identificadas: diminuição da atenção e do processamento da informação, do funcionamento visuoespacial, capacidades de expressão verbal, realização de funções executivas, memória verbal estruturada e velocidade psicomotora.
Os efeitos neurotóxicos do álcool manifestam-se no córtex cerebral (ex: córtex prefrontal), sistema límbico (ex: hipocampo) e cerebelo. Estas regiões, particularmente as cortico-límbicas, encontram-se ainda em desenvolvimento durante a adolescência e no início da idade adulta (Jacobus and Tapert, 2013). Um estudo comparativo de avaliação do volume do hipocampo entre indivíduos com 13-21 anos e história de uso abusivo de álcool e controlos mostrou nos indivíduos expostos ao álcool: i) menor volume do hipocampo, ii) menor volume do hipocampo nos indivíduos com iniciação mais precoce e iii) maior volume do hipocampo quando a duração de exposição ao álcool foi mais curta. Também o volume do córtex prefrontal era inferior nos indivíduos expostos ao álcool. 

Têm sido também realizados estudos em animais de experiência, tentando mimetizar a exposição aguda ao álcool em humanos. Os resultados são consistentes, evidenciando a vulnerabilidade do cérebro adolescente aos efeitos neurotóxicos do álcool, repercutindo-se nas funções cognitivas. A ativação da microglia, stress oxidativo, e alterações pró-inflamatórias são apontados como possíveis mecanismos de ação neurotóxica do álcool em modelos animais (Jacobus and Tapert, 2013).

A evolução nas técnicas de imagiologia tem permitido recentemente o registo de eventuais alterações/lesões no cérebro de adolescentes expostos ao álcool. De facto, a imagem por ressonância magnética funcional evidencia consequências neuronais que incluem alterações da massa cinzenta e branca cortical (Spear 2015). Também testes de avaliação de desempenho intelectual e de aprendizagem têm permitido associar o consumo intermitente mas agudo de álcool com eventuais efeitos adversos na realização de tarefas de natureza intelectual ou que necessitam de atenção e memória.
Um estudo prospetivo realizado durante 18 meses em adolescentes com idade inferior a 18 anos, com história de exposição ao álcool, recorrendo a técnicas de imagem de tensor de difusão cerebrais, mostrou perda agravada da integridade da massa branca em comparação com os controlos (Bava et al., 2013).

Foi realizado um  estudo em Espanha envolvendo 95 estudantes do 1º ano da Universidade de Santiago de Compostela  (18-20 anos), 42 dos quais identificados como “binge drinkers” e 53 como controlos. Todos se abstiveram de consumir álcool ou outras drogas 12 horas antes do início do estudo que consistiu no registo do eletroencefalograma durante a execução de uma tarefa visual com elevada carga para a memória de trabalho. Os indivíduos classificados como “binge drinkers” revelaram diferenças eletrofisiológicas, necessitando de um maior esforço para desempenhar a tarefa, bem como deficiência na diferenciação da informação relevante e irrelevante (Crego et al., 2009).

Sem se pretender ser exaustivo, poder-se-ão projetar algumas consequências nefastas na idade adulta para os consumidores de álcool de forma abusiva na adolescência:

1. Maior predisposição para a uso abusivo e dependência do álcool e de outras drogas ao longo da vida
2. Comportamentos de risco, resultando em maior incidência de acidentes de viação, atos violentos, contração de doenças em resultado de comportamentos sexuais de risco
3. Alterações cognitivas e abandono escolar 

Como consequência, o impacto do abuso do álcool pelos adolescentes verifica-se ao nível da saúde, social e económico. 

Deve ainda salientar-se a diferente vulnerabilidade entre géneros, sendo as adolescentes mais sensíveis aos efeitos adversos do álcool, nomeadamente na alteração das funções cognitivas e reduzida resposta cerebral na realização de tarefas intelectuais. Entre outros fatores, este agravamento dos efeitos adversos ao álcool nas adolescentes pode dever-se à menor massa corporal e menor capacidade de metabolização do etanol, repercutindo-se numa mais elevada concentração de álcool no sangue para a mesma quantidade ingerida pelos indivíduos do sexo masculino. O consumo exagerado de álcool durante a gravidez (normalmente involuntária em adolescentes) pode resultar na reconhecida síndrome fetal alcoólica do recém-nascido, com repercussões sérias na saúde mental e física da criança.

Perante a evidência dos efeitos particularmente nefastos do álcool na adolescência é imperioso envidar esforços de prevenção e de intervenção para os minimizar. Esta é uma responsabilidade de todos, governo, autoridades de saúde, escolas, sobretudo do ensino superior. Mas é crucial o papel a desempenhar pelas famílias e educadores, pois está provado que o abuso de álcool pelos pais ou outros familiares tem uma influência significativa na iniciação da exposição ao álcool, bem como na sua dependência na idade adulta.
Às autoridades compete restringir o acesso dos adolescentes ao álcool. Nas escolas devem ser desenvolvidas ações de sensibilização dos Estudantes para os efeitos nefastos do abuso do álcool, nomeadamente a prática de “binge drinking”, alertando para os perigos permanentes a nível cognitivo, da saúde, e comportamental, apresentando os resultados de estudos concretos realizados em adolescentes em que estes efeitos adversos foram comprovados.



Literatura consultada:

Spear LP (2015). Adolescent alcohol exposure: are there separable vulnerable periods within adolescence? Physiology & Behavior. In press

Bava S, Jacobus J, Thayer RE, Tapert SF (2013). Longitudinal changes in white matter integrity among adolescent substance users. Alcohol Clin Exp Res, 37 (Suppl 1): E181-E189

Crego A, Holguín SR, Mota N, Corral M, Cadaveira F (2009). Binge drinking affects attentional and visual working memory processing in young university students. Alcoholism: Clinical and Experimental Research, 33: 1870-1879

Jacobus J, Tapert SF (2013). Neurotoxic effects of alcohol in adolescence. Annu Rev Clin Psychol, 9: 1-21

López-Caneda E, Cadaveira F, Crego A, Doallo S, Corral M, Gómez-Suárez A, Holguín SR (2013). Effects of a persistente binge drinking pattern of alcohol consumption in young people: a follow-up study using event-related potentials. Alcohol and Alcoholism, 48: 464-471

World Health Organization (2014). Global status report on alcohol and health

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